quarta-feira, 18 de março de 2009

1886, 3 de Abril (sábado) - A PROVINCIA

A PROVINCIA
II Ano Nº 75
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EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE PHOTOGRAPHIA

Deve amanhã inaugurar-se solemnemente, na grande nave do Palácio de Crystal, este interessante certamen. A commissão organisadora da exposição dirigiu-se a el rei D. Luiz, solicitando-lhe a graça de vir presidir a esta festa artística. S. M. Não podendo aquiescer o pedido, respondeu comtudo em termos de extrema benevolência, manifestando a sua sympathia pelo emprehendimento e o apreço em que tinha o haver sido nomeado presidente da commissão promotora.
Também foi solicitada a comparência do snr. ministro das obras publicas, mas no momento actual não lhe é possível abandonar os trabalhos parlamentares. Assim o communicou á commissão endereçando lhe palavras de muito louvor e reconhecimento pela distincção com que havia sido honrado.
Espera-se que venha a esta cidade o snr. conselheiro António Augusto de Aguiar, ministro honorário.
Para a solemnidade da inauguração estão convidados a câmara municipal e as principaes auctoridades.
Esta exposição partiu da iniciativa da Photographia Moderna e principalmente do snr. Ildefonso Correia; logo depois associaram se a esta ideia o sr. Eduardo Alves e a direcção do Palácio de Crystal. Addiada duas vezes por causa da cholera, abre-se finalmente agora.
Esta exposição é das mais attrahentes que se tem realisado entre nós.
Seria injusto negar á direcção do Palacio de Crystal e á commissão iniciadora os elogios que merecem.
O exame dos modelos mais correctos, dos exemplares mais perfeitos, excita desejo da imitação e desenvolve o bom gosto.
No Palacio de Crystal estes torneios são verdadeiras festas e agradabilíssimos espectáculos, que bem mais merecem a attenção e o concurso do publico do que as exhibições inclassificáveis, que nos theatros e nos circos são procuradas com injustificavel avidez.
O aspecto da grande nave é magestoso. A disposição dos quadros, obedece a tudo feito com gosto, de modo a impressionar muito satisfactoriamente o visitante pela variedade de assumptos que vae encontrando.
É grande o numero de expositores extranhos; ao contrario, o concurso dos nacionaes é bastante exíguo, mas os specimens expostos são excellentes e não desmerecem ao lado dos productos da industria estrangeira.
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A exposição occupa toda a nave central: salão e palco. A todo o comprimento vêem-se vinte arcos de galeria, abertos sobre fundo escuro. Ao longo da linha dos arcos corre um balcão destinado aos specimens photographicos; estes estão emmoldurados em caixilhos de supporte.
No centro da nave ergue-se uma vitrine hexagonal. Aos lados, em estantes revestidas de panno escuro, vêem se provas photographicas sobre papel.
A ornamentação, que é muito elegante e de muito bom gosto, foi dirigida pelo snr. Marinho.
Nos pilares da galeria, estão dispostas bandeiras, galhardetes e escudos onde se lêem os nomes dos inventores, aperfeiçoadores e cultores da arte photographica e suas derivadas, figurando n’esses nomes não só estrangeiros como nacionaes.
Numerosas plantas ornamentaes avivam também, sobre plintos, todo aquelle recinto.
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Como já dissemos, os photographos portugueses concorreram em menor numero do que era de esperar. Do Porto destacam se principalmente a Photographia União, dos snrs. Fonseca & C.ª e a Photographia Moderna, dos snrs. Leopoldo Cirne & C.ª. Expõem também trabalhos muito apreciáveis os snrs. Silva Pereira & C.ª. De Lisboa só notamos um expositor, o snr. Camacho.
De Coimbra são dignas de menção as exposições da photographia Sartorio, do snr. José Maria dos Santos e do snr. Adriano da Silva e Sousa.
Já os leitores vêem que os photographos de profissão nacionaes se apresentaram em numero reduzidíssimo. Com a exiguidade do numero dos expositores contrasta, porem, a opulência das exposições das duas photographias do Porto que em primeiro logar citamos.
Entre os amadores nacionaes avultam em primeiro logar o snr. Carlos Relvas e a sua filha snr.ª D. Margarida.

O snr. Carlos Relvas expõe:

Quadros: 1) – Album de l’Exposition rétrospective d’art ornamental, Lisbonne, 1882. Texte en portugais et français; 55 phototypies; reliure spéciale ; 2) – Spécimens du même album ; 3) – Idem ; 4) – Plaques gravés par Monsieur Joseph Leipold pour la reliure du même Album.
Phototypia: - Quadros: 5) – Portait du monument des Jeronymos (Lisbonne) ; 6) Portait des chapelles imparfaites (Batalha) ; 7) – Intériur de l’atelier de C. Relvas ; 8) – Environs de Braga ; 9) – les Vallées (Environs de Thomar). Épreuve de deux clichés ; 10) – Chapelle Royale (Batalha) ; 11) – Art ornemental (Exposition, 1882) ; 22) – Idem ; 13) – Idem ; 14) – Dessin de Sequeira ; 15) – Portraits, etc. ; 16) – Portraits, Reproduction, Fleurs ; 18) – Espagne (Tremblements de terre) , 19) – Idem : 20) – Idem ; 21) – Idem ; 22) – Idem.
Provas positivas em vidro : - Quadros : 23) – Positif par transparence sur plaque au gélatine chlorure de Monsieur Hutinot ; 24) – Idem.
Provas a carvão : - Qudros : 25) – Portraits ; 26) – Instantané ; 27) – Idem, (pendant l’inondation); 28) – Positif par transparence (Batalha); 29) – Costume d’Ilhavo.
Provas em papel albuminado: Quadros: 30) – Portrait de As Majesté la Reine D. Maria Pia; 31) – Portrait de Sa Majesté Roi D. Louis I; 32) – Portraits; 33) – Costumes; 34) – Monuments et Paysages; 35) – Paysages ; 36) – Instantanés ; 37) – Chapelles Imparfaites (Batalha) ; 38) – Batalha (vue générale) ; 39) – Cloitre du Monument des Jeronymos ; 40) – Château de la Pena ; 41) – Monserrate (Cintra) ; 42) – La tête du Maure (Condeixa) ; 43) – Foz do Douro ; 44) – Massarellos (Porto) ; 45) – Environs de Torres Novas ; 46) – Espagne (Instantané) Malaga ; 47) – Idem, Mosquée de Cordoue ; 48) – Idem, Alhambra ; 49) – Idem, Tremblements de terre ; 50) – Idem, Idem ; 51) – Idem, Idem ; 52) – Instantané (Gollegâ); 53) – L’hiver a guarda; 56) – Idem, Idem.

D. Margarida Relvas expõe os seguintes quadros:

Provas a carvão: - Quadro: 1) – Portraits.
Provas em papel albuminado: - Quadros: 2) – Portraits; 3) – Costumes; 4) – Instantanés; 5) – Portrait et fleurs; 6) – Idem; 7) – Idem; 8) – Idem; 9) – Promenade d’Evora; 10) – Environs de Gollegâ; 1) – Idem; 12) – Fleurs.
Phototypia: - Quadros: 13) – Portrait sur papier de Chine; 14) – Portrait; 15) – Paysage (Gollegâ) ; 16) – Idem ; 17) – Cloit du monument des Jeronymos ; 18) – Portraits sur gelatine et fleurs en Phototypie ; 19) – Idem.
Provas positivas em vidro : - Quadros : 20) – Positif par transparence sur plaque au gélatine chlorure de Monsieur Hutinet de Paris ; 21) – Idem ; 22) – Idem ; 23) – Idem.

O sr. Eduardo Alves, amador do Porto, apresenta provas distinctissimas, revelando um perfeito conhecimento dos processos mais modernos e uma nitidez de execução superior a todo o elogio. O sr. Anthero Araújo, também do Porto, expõe 12 quadros com paisagens, grupos e retratos.
O snr. Joaquim Basto, ainda do Porto, apresenta um quadro com 12 photographias, entre ellas a de um monumento, o convento de Leça do Bailio.
Como amadores nacionaes notam-se ainda o snr. Sassetti, de Cintra e o sr J. A. da Cunha Moraes. A exposição d’este occupa todo o balcão do centro da nave central. Consta de uma série de provas photographicas de typos e aspectos da natureza de Africa.
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Os photographos extrangeiros são hespanhoes, allemães, austríacos, húngaros, polacos, brazileiros, etc.
De Hespanha é que a concorrência é mais numerosa. Notam-se as exposições dos snrs. Edgard Debas, Alviach, Viúva de Amayra y Fernandes, Herbert, de Madrid, e Chicharro, de Santiago.
Da Prússia apparece installada na primeira secção á direita do visitante, a casa do OttoWilde. Teem grandíssima novidade os trabalhos apresentados por este expositor.
A photographia Zelermy Karoly (da Polónia) expõe um quadro com 18 magnificas photographias, meia placa, carte-album e visite.
A photographia Goszleth (de Budapest) expõe um excellente quadro.
De Berlim, o atelier de reprodução Rud Schnoter apresenta uma série de photo-gravuras, segundo pinturas a óleo, e sete quadros grandes, dignos de attenção.
A casa Ios & Ian Pric offerece algumas provas de experiências astro photographicas, effeitos de luz nas cordilheiras e crateras da lua, sombras das montanhas projectadas nas planícies lunares e alguns pormenores minuciosos da orographia lunar, bastante interessantes.
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Os amadores extrangeiros são numerosos e os seus trabalhos são na máxima parte apreciabilissimos. De Inglaterra concorreram alguns dos mais distinctos, como os snrs. Robinson, Emerson e Clement William.
Teem também exposições muito dignas de notar se os amadores inglezes residentes no Porto, os snrs. André Cassels, James Searle e miss Marion Searle.
São também expositores o snr. Ferdinand Claus e Mmer. Claus, o snr. Francisco Guillon y Morante, H. C. Garland, Arthur Benarus, Adam Diston, Albert Lucardon, o professor Stebbing, J. P. Gibion, Hans Schublerbaner e muitos outros.
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É na nave central que se encontram quasi todos os expositoresa que nos temos já referido.
Logo á entrada, do lado direito, a installação dos productos do snr. Carlos Relvas e sua filha, dous amadores de primeira ordem. A disposição é lindíssima, mesmo bastante magestosa.
Do lado esquerdo expõe a Photographia União. A installação não é muito leve, mas é imponente e deve agradar immenso.
No palco vê-se a exposição do Centro Artístico Portuense, que foi convidado já bastante tarde, segundo nos informam, a concorrer só com photographias. Expõe retratos, cabeças de estudo e paisagens, trabalhos dos sócios do Centro.
Sobresahem os retratos devidos aos snrs. Marques d’Oliveira, Sousa Pinto, Pouzão (já fallecido), Custodio da Rocha, Marques Guimarães e Torquato Pinheiro.
Em exemplares photographicos expõe copias dos sete celebres frescos de Rafael, e copias de Velásquez, Moret, Gorja, Terrier, Ribera, etc.
Ainda no palcoestá a exposição da Photographia Moderna dos snrs. Leopoldo Cirne & C.ª. É uma das mais graciosamente dispostas, occupando um pavilhão elegantíssimo, que lembra algum tanto uma mesquita árabe, com o seu minarete dourado. Graciosíssima.
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É de notar um rido álbum atlas de photolytographias que é destinado a sua magestade, depois de encerrada a exposição.
É um trabalho magnifico do bem conhecido artista Ottomar Volkmer, de Vienna d’Austria.
É também muito digno de menção o trabalho exposto pelo snr. Alfredo Brand, um primorosíssimo desenho á penna, reproduzido na officina do sr. Biel, por meio da photolytographia.
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Uma primeira visita e o exame fugitivo que fizemos dos objectos expostos não nos permittem dar conta aos leitores de todas as preciosidades artísticas, que se encontram no grande salão do Palácio de Crystal. A primeira impressão que em geral nos causou a exposição foi das mais agradáveis. Por certo deixamos de olhar com a attenção requerida para muitos objectos expostos, dignos de reparo e de critica; por isso estamos dispostos a voltar lá uma ou muitas vezes, e daremos aos nossos leitores as impressões, que formos recebendo, em pequenas doses. Isto não pode ir de umaz só. Estando a concluir esta notocia, e percorrendo o que já escrevemos notamos que as deficiências são grandes.
Não prosigamos, pois; tratemos de nos metter na ordem para fallarmos a seu tempo detalhadamente.

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