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quarta-feira, 18 de março de 2009

1886, 10 de Abril - A Vida Moderna

A Vida Moderna
7º Ano
nº 10
Pag. 2
*
A Arte entre nós


Exposição Internacional de Photographia

A abetura da Exposição Internacional de Photographia abriu-se domingo ultimo. O Palácio de Crystal mais uma vez realizou uma d’essas gloriosas festas do trabalho as quaes a gente não pode deixar de ver sem sentir os olhos molhados por uma commovente sensação de orgulho e de alegria. Mais uma festa de paz, e da intelligencia humana.
Realisar uma exposição de photographia n’um paiz onde não abundam elementos é uma prova de coragem de abnegação suprema. O certâmen que agora está attrahindo as attenções do Porto, é um d’esses eloquentes testemunhos de que na nossa terra se trabalha, e que n’uma nação onde não há riquezas, onde não há publico, onde não há essas enormes fontes de movimento que há no estrangeiro, existem ainda meia dúzia de vigorosas organisações doudas pela arte e pelo bello, que fazem da fraqueza força e do enthusiasmo disciplinador progresso.
Bem hajam os que assim pensam, os que assim trabalham, e os que vão luctando atravez d’este meio tão indifferente.
A Exposição de Photographia é um documento interessante e alto de que não vivemos affastados da corrente que lá fora vae levando tudo nas azas do progresso para paizes luminosos de felicidade e de gloria. E se o concurso dos photographos nacionaes não foi tão numeroso, não sabemos porque razões justificadoras da sua ausência, lá está o núcleo do que temos de mais ilustre e de mais perfeito.
A nossa revista não dispõe de espaço para fazermos uma analyse detalhada, e mesmo que o tivéssemos não o faríamos. Entendemos que o jornalismo, nas resenhas d’esta espécie, deve apresentar apenas uma impressão do todo, fazendo notar as superioridades mais notáveis, e não entrar em minudências de processo,de factura, e correr nome a nome com um furor de critica, que muitas vezes se aplica poregual a uns poucos de indivíduos. A impressão geral, é quanto basta, aliás o nosso papel fica sendo o de um individuo fazendo um cathalogo, que nem ao próprio leitor interessa.
A Exposição de Photographia foi promovida pela Photographia Moderna, esse atelier distinctissimo, que pode justamente bater-se com os ateliers do estrangeiro. Esta bella ideia foi auxiliada pela digna Direcção do Palácio de Crystal, e que por este motivo é merecedora dos maiores encómios. Na verdade proporcionar uma exposição nova, sem nenhum auxilio official, com os recursos limitados que há, é uma d’estas cousas para as quaes a gente passa pelo seu arrojo e pela sua grande vontade que ahi metteu ombros.
Muitos expositores nacionaes e estrangeiros reclamam as primasias da exposição, sem querermos distinguir logares, attrahe as attenções o photographo amador Carlos Relvas, com os seus numerosos clichés de uma delicadeza, de um effeito espantosos.
É bem difficil ir mais além na photographia. Cremos bem que não há perfeição superior, que não há disposição mais artística nem mesmo Robinson, o grande mestre, que não há subtileza de impressão mais fina... É um conjuncto soberbo, explendoroso.
A Photographia Moderna é talvez a que se recommenda mais dos ateliers nacionaes. Apresenta paisagens soberbas, de um detalhe riquíssimo. Os seus retratos especialmente são os melhores que vemos na exposição.
Não há alli dureza de retoque; a luz é distribuida egualmente sem sacrifício de parte alguma. Depois segue-se a União, na sua soberba installação. Os seus retratos são magníficos e os seus clichés de plantas de um grande relevo e perfeição.
Muito longe nos levaria a especialisação de outros trabalhos de photographos portuguezes e extrangeiros. A maior parte, porém, dos nossos bons collegas tem orientado bastante o publico para que tenhamos de expor aqui uma desenvolvida analyse.
Diremos por fim que teem representantes n’este grande certâmen: a França, Suissa, Inglaterra, Allemenha, Áustria, Hespanha, Brazil, Estados Unidos da América..
O Centro Artístico, apresenta alguns trabalhos de mérito, destinguindo-se notavelmente, em retraros os snrs. Marques de Oliveira e Souza Pinto pela correcção de desenho e firmeza com que são executados.

1886, 11 de Abril - O OCCIDENTE

O OCCIDENTE
9º Anno
Vol IX
Nº 263
Pag. 86, 87
*
EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE PHOTOGRAPHIA NO PORTO

Abriu no dia 4 d'este mez, na vasta nave do Palacio de Crystal Portuense, a exposição internacional de photographia.
Esta exhibição representa mais um dos commettimentos prestantissimos da iniciativa particular, ou por outra mais um serviço feito ás artes pela direcção d'aquelle estabelecimento.
Sem o menor sacrificio do paiz, e sem a mais pequena influencia official, até, a referida direcção, auxiliada pelo zelo e pela boa vontade dos cavalheiros que se lhe aggremiaram, formando a commissão executiva, conseguiu reunir os elementos de um certamen cuja importancia se accentua não só pelo grande numero de photographos notaveis estrangeiros que a ella concorreu, como pela belleza de muitos productos expostos.
Todos os inventos mais recentes da photographia, todas as perfeições conseguidas até hoje n'essa maravilhosa arte, emfim todos os processos technicos nas suas variadas applicações, alli se patenteiam.
E comtudo, desagradavel é dizel-o, na presente exposição, em que sem duvida alguma a photographia portugueza se acha dignamente representada, faz-se notar a ausencia de grande numero de photographos nacionaes, que podiam apresentar-se n'ella sem desdouro.
O numero de abstenções n'esse ponto é pois bem saliente, e nem sabemos a que attribuir a sua verdadeira causa.
N'um paiz em que ha tantos photographos de profissão, qapenas concorreram a um certamen, realisado por assim dizer dentro da sua propria casa, tres do Porto (não contando com a casa Biel & C.ª, que se diz tencionar ainda exhibir uma collecção dos seus trabalhos), dois de Lisboa e tres de Coimbra.
Em compensação é grande o numero de amadores, entre elles alguns muito distinctos, que se apresentam com specimens de primeira ordem, e á frente dos quaes se acham no logar de honra o sr Carlos Relvas e a sua exmª. filha.
Não faltam portanto n'este grande concurso nem incentivo para a curiosidade, nem mesmo noções para proveitoso estudo dos que se dedicam por prazer ou por profissão á photographia.
A exposição occupa toda a nave central, incluindo o palco
Por baixo das galerias estabeleceram-se uns apainelados, de arco a arco, onde tomam logar os diversos expositores, e ao centro collocaram-se tambem filas de mostradores, em que outros exhibem as suas provas em cartões.
Os dois lanços da parede da entrada do salão são occupados, o da esquerda pela Photographia União, e o da direita pelo sr. Carlos Relvas e pela sr. D. Margarida Relvas.
No palco exhibem os seus trabalhos a Photographia Moderna, que ahi estabeleceu tambem um pavilhão para venda de albuns, e o Centro Artistico Portuense, que apresenta varios desenhos, copias de photographias.
Feito este rápido esboço do aspecto geral da exposição e do seu valor, vamos passar em revista os diversos productos que n'ella se offerecem ao exame do visitante, começando pelos photographos de profissão e concluindo pelos amadores.

Porto, abril.

(continua)
Manuel M. Rodrigues

1886, 17 de Abril (sábado) - A Vida Moderna


1886
17 de Abril
(sábado)
A Vida Moderna
7º Ano
nº 11
Pag. 1, 2
*
A Arte entre nós

Exposição Internacional de Photographia

Na semana ultima procedeu-se á classificação dos trabalhos d'esta exposição. O resultado foi o seguinte:

Concurso de amadores

Medalhas d'ouro - Aos snrs. Carlos Relvas, pelo todo da sua exposição; D. Margarida Relvas, pelos seus trabalhos de photographia em differentes processos; H.P.Robinson, pelas suas composições photographicas; e Eduardo Alves, pelas photographias e principalmente pelo alto concurso que prestou a este certamen.
Medalhas de prata - Aos srs. Augusto Fonseca, como cooperador dos amadores Carlos e Margarida Relvas; João S. Romão e José Mauricio Rebello Valente, pelas suas photographias de paisagem; Adam Diston, P.H.Emerson, W. Clement Williams, J.P. Gibson, Hans Schullerbauer e George Rendwick, pelos seus bellos trabalhos photographicos: J.M.Brownrigg, pelas suas paisagens; Joaquim Augusto de Souza, pelas suas paisagens.
Medalhas de cobre - Aos srs H.C.Garland, pelas suas paisagens; Mme. Moller Claus, pelas suas photographias coloridas; A.Cassels, por alguns dos seus trabalhos photographicos; Francisco Guillon y Morante, por algumas das suas photographias coloridas; James Searle, Antero d'Araujo e Joaquim Basto, pelos seus trabalhos photographicos; Frederico Cesar da Camara Leme, pelas suas miniaturas, sobre photographia, coloridas a oleo, e Hasteman Koch, pelas suas photographias.
Menção honrosa - Aos snrs. Arthur Benarus, Mme. Effle de Pitroff e Victor Sassetti, pelas suas photographias de paisagens; miss Marian Searle, pelas suas photographias sobre vidro.
Concurso entre photographos

Medalha d'ouro - Eduardo Debas (retratos).
Medalha de prata - Zelesny Karoly, (retratos); D. Pedro Martinez d'Hebert, (retratos e monumentos); photographia União, (retratos e reproducções de plantas em vasos), D. Manuel Alviach, (retratos); Viuva de Amayra y Fernandez, (retratos); J.A. da Cunha Moraes, (photographias d'Africa); Wilh. Dreesen, (instantaneas e figuras); Ottomar Volkemer, (plantas topographicas); Charles Scolik, (instantaneas e estudo para reproducção de pintura); Francisco Rochini, (monumentos e panoramas).
Medalha de cobre - Silva Pereira & Ferreira, (retratos); Clemens Kissel, (processos diversos d'impressão); Jos & Jan Fric, (photographias planetarias); Goszeleth Istevan (retratos); Albert Lugardon, (instantaneas); Joaquim Filippe Nery Delgado, (reproducções topographicas); Adriano da S. e Souza, (retratos); Edm. Gaillard, (diversos processos de impressão).
Menção Honrosa - J. Sartoris, (retratos), J. Maria dos Santos (retratos); Otto Wild, (photographias coloridas); Jos Kossak, (photographias coloridas).
Os membros do juri, sentindo, mas respeitando a forma por que a Photographia Moderna, de Leopoldo Cirne & Cª., se collocou fóra do concurso, consignaram na acta um voto de muitissimo louvor, não só pela excellencia dos trabalhos que aquella casa apresentou, como tambem pela sua iniciativa em uma exposição tão brilhante e instructiva.
Foram julgados tambem os productos chimicos de A. J. de Brito e Cunha e o juri premiou-os com medalha de ouro.
Machinas, acessorios, etc., serão jugados apportunamente.
Foi esta a decisão do juri justa e honrosa, aparte uns leves senões que apresentaremos adiante.
Das photographias portuguezas que concorram á exposição a 1ue mais se distinguiu foi a Photographia Moderna. Esta atelier como se sabe ficou fóra do concurso, os seus trabalhos são no geral muito distintos. Alem da doçura de impressão, a luz é admiravelmente bem distribuida. Nenhuma parte do objecto photographado é sacrificado á outra, assim a luz não é como vemos em variss trabalhos de algumas outras photographias, applicada de chapa sobre um unico ponto, deixando o outro no escuro e no vago, ella é antes distribuida tão naturalmente que nenhuma parte perde do seu effeito e da sua posição.
É para sentir apenas que este atelier não expuzesse alguns trabalhos de gravura chimica. Sabendo nós que esta caza se tem dedicado com boa vontade ao estudo d'este processo, e era digno que o certamen se achasse representado n'esta classe por trabalhos nacionaes, que os não vimos lá n'este genero.
A Photographia União apresentou e fez distribuir um protesto contra a decisão do juri que apreciou os trabalhos do concurso entr photographos, e com esta casa protestaram mais os snrs. M. Aiviach, de Madrid e José Maria dos Santos, de Coimbra.
Não temos nem devemos ter nada com este procedimento visto que não é da nossa competencia o analysal-o.
Já dissemos que a photographia União se apresenta dignamente, e que muito melhor se poderia apresentar. Não lhe escasseiam, felizmente poderosos elementos de progresso.
A exposição d'este importante atelier compõe-se quasi unicamente de retratos, e de uma collecção de clichés de plantas em vazos, muito bem tratados.
A reprodução de plantas, como é sabido não é trabalho muito difficil, e de que se obtem quasi sempre um effeito seguro. É um trabalho de gabinete em que o photographo pode dispor de tempo, de paciencia e de gosto, e que não tem a luctar com as mil contrariedades que se manifestam, ou com o genero retrato ou com o genero paisagem especialmente.
Mas se alguma reclamação ha a fazer, essa poderia ser a da distribuição talvez um pouco prodiga das medalhas de 1ª. classe, medalhas d'ouro. Na nossa opinião, se nos é permittida, uma leve observação, é de que este erro talvez nunca se possa deixar de dar, se não no momento em que os trabalhos de amadores e os trabalhos de artistas de profissão que concorram juntamente em qualquer certamen, entrem em egualdade de circumstancias.
Os trabalhos de amadores devem ser equiparados aos trabalhos de artistas ou de industriaes de profissão no que diz respeito a classificação, logo que entrem no mesmo concurso, e por conseguinte sujeitos da mesma forma á apreciação do jury.
Não sendo assim, haverá retrahimento do artista.
Applicando esta medida ao presente caso, teria p jury de distribuir muitas mais medalhas de ouro, ou, então não seria tão generoso como foi com os amadores.
todos sabem em que condições trabalham em geral os amadores photographos. Elles dispõem quasi sempre de elementos de riqueza que lhes permittem ter apparelhos aperfeiçoados; o tempo não lhes falta, não teem que attender ás grandes necessidades da vida, não teem que vigiar o sustento, a ordem, e o bom nome de um atelier, não teem que entrar na lucta do commercio, teem quasi sempre bons mestres e bons operadores, podem possuir compendios podem estudar; finalmente com riqueza, paciencia, tempo e outros elementos, os amadores são uma terrivel concorrencia aos artistas.
Entendemos que deveria haver apenas um jury, porque assim terminariam certamente todas as queixas e todas os equivocos.
Eis a nossa sincera opinião

1886, 21 de Abril - O OCCIDENTE

O OCCIDENTE
9º Anno
Vol. IX
Nº 264
Pag. 94
*
EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE PHOTOGRAPHIA NO PORTO
(continuado do Nº. 263)

PHOTOGRAPHOS ESTRANGEIROS

O sr. O. Wilde, de Halbersdt, expõe dez retratos em diversos formatos, provas a carvão pintadas a oleo e retocadas.
Estes trabalhos, pela sua bonita apparencia, são d'aquelles que attrahem a vista de grande parte do publico, que, por falta de conhecimentos, se preoccupa pouco com minudencias de arte, mas que não podem satisfazer a quem tenha uma instrucção artistica mais ou menos desenvolvida. Agradavel aspecto ao primeiro relance, mas com imperfeições de cor e incorrecções de desenho em grande parte devidas ao demasiado retoque com que ordinariamente em photographia se destroem os caracteres physionomicos do individuo.
Todos os retratos do sr. Wilde teem um aspecto de esmalte, o que faz persuadir a muita gente que aquillo seja photographia colorida em louça, como até já o vimos escripto. Imagine-se por isto que nitidez e que brilho de cor ha n'elles.
Da collecção, o que mais nos agradou foi: Um busto de senhora, formato placa, com um enfeite de pelucia azul na cabeça; uma senhora, de vestido verde, apoiando um dos joelhos em uma balaustrada, e approximando um calix de vinho dos labios de um busto de marmore, phantasia graciosa e interessante; e ainda um outro assumpto identico, mas em que a figura está de pé, tendo um vestido azul pallido. Este ultimo, se bem que inferior aos outros retratos, não deixa comtudo de se insinuar. Os restantes resentem-se do defeito geral da pouca verdade dos tons, principalmente das carnes e do demasiado retoque. Apesar d'isso, estas provas não deixam de ter certo merecimento como photographia pintada a oleo.
O sr. Zelesny Károly, de Pecsett, é um photographo distincto. Dá provas d'isso nos trabalhos de duble-placa, cartão-album e visita, que expõe em um caixilho. Notaremos apenas que os fundos de alguns retratos são muito historiados, fundos com que não sympathisamos demasiado, por não darem por vezes sufficiente destaque á figura. Em photographia só admittimos, como de bom gosto, os fundos naturaes, quando se trata de paizagens, ou mesmo de interiores, e quando se possui bom gosto para a disposição das figuras.
Da collecção do sr. Károly, como testemunho do seu bom gosto e das suas excellentes aptidões artisticas, mencionaremos um formoso retrato em placa, de uma senhora em costume de baile, com uma guarnição de flôres artificiaes escuras no corpete do vestido e um outro retrato, tambem muito perfeito, de um individuo de grandes barbas, igualmente em formato placa.
O sr. Hans Schullerbauer, de Brixen, apresenta uma porção de photographias em passe-partouts de vidro, todas muito regulares, havendo mesmo entre ellas algumas agradáveis.
O sr. Kossak Joseph, de Temesvár (Hungria), exhibe tres ampliações photographicas em panno, sendo duas a claro-escuro e uma colorida, bem como duas provas em cartão.
As provas a claro-escuro não primam pelo aspecto nem pela côr negra, de uma dureza afflictiva. A colorida, um retrato em meio corpo, de phantasia, representando uma jovem com azas e mostrando uma carta, é tambem, como pintura, de um merecimento inferior, pela falsidade do tom das carnes e pela monotonia geral do quadro, de uma brancura desoladora. Quanto ás provas em cartão, duas cabeças de creança, é tal a minuciosidade do retoque, que parecem desenhos á penna, mas desenhos de collegial.
Rud Schuster, de Berlim. Eis um artista de primeira ordem. Expõe uma preciosa collecção de photo-gravuras, cópias de pinturas, algumas d'ellas de grandes dimenções e todas de uma execução irreprehensivel.
As copias são: de dois quadros de genero, de F. Vinea, de Florença; um formoso grupo de bois, de Hans; uma notabilissima paizagem de J. Wenglein; um quadro de genero, de Andreotti; uma suave paizagem de neve, impressa a tinta levemente azulada; uns leões, de Friese; uma cabeça (Ecce Homo), de Guido; outra cabeça (Mater Dolorosa), de Carlo Dolce; um quadro de genero, de Czachórslei; uma grande caçada, de Conrad Freyberg, na qual entre outros personagens, figuram o imperador Guilherme, os principes Frederico Carlos, Alberto da Prussia, Frederico Guilherme, Bismark, etc; uma copia do natural de uma galeria de muzeu militar; outra copia, tmbem do natural, de uma cabeça decorativa; uma armadura, egualmrnte copia do natural; e até um bello retrato, copiado do natural.
Todas estas photogravuras são de um primor inexcedivel, mas a mais surprehendente é sem duvida a copia da paizagem de Wenglein, um riacho orlado de canaviaes, atravessando um paizde uma vegetação opulenta e rude. A fidelidade da reproducção é tal, que nos pedaços revoltos da atmosphera, se chega a perceber claramente o empaste das tintas e a pincelada.
Este explendido quadro mede cerca de quarenta centimetros de comprimento, o que representa uma chapa photographica importante e o da caçada, de Freyberg, o maior de todos, attinge uns oitenta centimetros.
A collecção de photogravuras do sr. Schuster, a mais notavel, no seu genero, da exposição, é digna da attenção e do apreço de artistas e amadores.
O sr. Albert Lugardon, de Genebra, apresenta quatro caixilhos com photographias instantaneas. Não são de certo, na sua especialidade, as melhores que apparecem, mas não deixam comtudo de se tornar dignas de menção. Em muitas d'ellas nota-se por vezes pouca nitidez e os fundos bastante confusos. Representam diversos animaes em movimento, com especialidade cavallos, grupos de creanças a brincar e uma marinha. Esta ultima é muito bonita, sendo tambem apreciavel uma das photographias em que se vê um rapaz na acção de se lançar á agua para nadar, junto de outra já submergido até ao pescoço.
Paulo Sebbing, professor, com estabelecimento de aparelhos photographicos em Paris. Exhibe quatro boas provas instantaneas em gelatina-bromurada de prata, obtidas com um obturador inventado pelo mesmo expositor e com um objectivo aplanetico de Luter. As vistas representam varios locaes de Paris e são muito nitidas no movimento da gente e dos vehiculos que atravessam os pontos photographados.
O referido professor expõe tres machinas photographicas com os obturadores da sua invenção. Uma d'ellas, que d'a o formato de placa, é excellente. O seu preço creio ser de 70$000 réis. É, alem d'isso, muito portatil e de uma construcção irreprehensivel.

Porto, abril.
(continua) Manuel M. Rodrigues

1886, 24 de Abril - A Vida Moderna

A Vida Moderna
7º Ano
nº 12
Pag. 3
*
Palacio de Crystal

Exposição Internacional de Photographia. - De dia: das 8 e meia da manhã até ás 6 e meia da tarde; de noite: das 8 e meia até á meia noite. Illuminação a luz eletrica
Entrada geral 200 reis; creanças de 7 até 12 annos 100 reis; menores de 7 annos entrada grátis.
As photographias, apparelhos e obras sobre photographia dos expositores de Paris, os snrs. Pirou, J. Audonin, Pah’n, H. Mackensle’n, E. Faller e Léon Vidal, bem conhecidos no mundo artístico, acabam de chegar e vão ser exposto.
Há coisas bellissimas e dignas de serem admiradas.
Bilhetes permanentes para todo o tempo da exposição (um mez) 2$250 reis.

1886, 1 de Maio - OCCIDENTE

OCCIDENTE
9º Ano
Vol. IX
nº. 265
pag. 104
1 de Maio de 1886


EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE PHOTOGRAPHIA NO PORTO.
Installação de Debas, de Madrid, premiado com a medalha de ouro (Segundo uma photographia)
Vid. Artigo “exposição internacional de photographia no Porto”

1886, 15 de Maio - A VIDA MODERNA


1886
15 de Maio
A VIDA MODERNA
7º Ano, nº15
*
A Arte entre nós

*

Exposição internacional de Photographia

O novo jury que foi nomeado para classificar os productos apresentados n'esta exposição por photographos de profissão e que era composto pelos snrs.:
Presidente, Thadeu Maria de Almeida Furtado; secretario, Nuno Freire Dias Salgueiro; vogaes, Albino Pinto, Guilherme Boldt e Antonio Guilherme Peixoto.
Lettra A - Impressões a tintas gordas sobre camada de gelatina - Joaquim Filippe Nery Delgado, de Lisboa, segundo premio; Silva Pereira & Ferreira, do Porto, terceiro premio.
Lettra B - Gravura heliographica, photogravura em cobre - Rud Schuster, de Berlim, primeiro premio.
Lettra C - Woodburytipia, photoglyptia, stannotypia e processos analogos - Não houve expositores.
Lettra D - Photolytho, photozincographia e processos analogos - Clemene Kissel, de Mainz, Allemanha, primeiro premio; Edm. Gaillard, de Berlim, segundo premio pelo processo autotypio.
Lettra E - Photographia a carvão, em papel, vidro, madeira e porcellana - Silva Pereira & Ferreira, do Porto, segundo premio pela impressão a carvão em papel; Eng. Pirou, de Paris primeiro premo pela impressão a carvão, em porcellana; Pierre Patin de Paris, segundo premio pelo positivo em vidro; Manoel Chicharro, de S. Thiago, terceiro premio pelos positivos em vidro.
Lettra F - Photographia em papel albuminado, platinotypia - Eduardo Debas, de Madrid, primeiro premio; D. Manoel Alviach, de Madrid, primeiro premio; viuva de Amayra y Fernandez, de Madrid, primeiro premio; J. Laurent, de Madrid, primeiro premio; Zelesny Karoly, da Hungria, primeiro premio; Goszeleth Istevan, de Budapesth, Hungria, primeiro premio; J. A. da Cunha Moraes, de Lisboa, primeiro premio; Francico Rochini, de Lisboa, primeiro premio; Photographia União, do Porto, primeiro premio; João F. Camacho, de Lisboa, segundo premio; Wilh. Dreesen, de Flensburg, Alemanha, segundo premio; Silva Pereira & Ferreira, do Porto, segundo premio; José Maria dos Santos, de Coimbra, segundo premio; A. Attout Talfer, de Paris, segundo premio; Charles Solick, de Vienna de Austria, segundo premio; Albert Lugardon, de Genève, terceiro premio; J. Sartoris de Coimbra, terceiro premio; Bergeret & de Joux, de Paris, terceiro premio; A. Ducasble, de Pernambuco, menção honrosa; Arthur Benarue, de Lisboa, menção honrosa.
Lettra G - Gyanotypia e processos analogos - Não houve expositores.
Lettra H - Photograpgias vetrificadas, photographias coloridas - Viuva de Amayra y Fernandez, de Madrid, segundo premio, pelas photographias coloridas; Kessak Joseph, de Temesvar, Hungria, 3º. premio, pelas photographias coloridas; Otto Wilde, de Halberstadt, 3º. premio, pelas photographias coloridas.
Lettra I - Ampliações, positivos especiaes para projecção, etc. - Jos. & Jan Fric, de Praga, Austria, 1º. premio, pelos seus positivos especiaes para projecção; D. Manoel Alviach, de Madrid, 2º. premio; Photographia União, do Porto, 2º. premio; Silva Pereira & Ferreira, do Porto, 3º. premio.
Lettra J - Apparelhos e instrumentos photographicos - Thury & Amey, 1º. premio, obturador; H. Mackenstein, de Paris, 1º. premio; Eng. Faller, de Paris, 2º premio; Paul Stebbing, de Paris, 3º premio; J. Audouim, de Paris, 3º premio.
Lettra K - Photomicaographia - M. Schlenker, de St. Gallen, 2º. premio.
Lettra L - Litteratura Photographica, obras e jornaes - CH. Scolik, de Vienna, 1º. premio, pelas chapas insochromaticas; Leon Vidal, 1º. premio.
Lettra M - Publicações illustradas pela photographia e processos photomechanicos - Ottomar Volkmer, da Austria, 1º. premio; Clemens Kessel, de Maing, 3º. premio.
Lettra N - Chapas ao gelatino, papeis preparados para os differentes processos, cartões, etc., etc. - A. J. de Brito e Cunha, de Lisboa, 1º. premio, productos chimicos; Gelatinefabrik Wenterlhur, 2º. premio, pelos preparados de gelatina; Viuva de Amayra y Fernandez, de Madrid, 2º. premio, pelas chapas de gelatina.
Os membros de Jury reconhecem a muita competencia artistica, aptidão e bons desejos que o jury transacto empregou na classificação das provas epostas

*

Está se organisando uma exposição de quadros, nas sallas do “Commercio de Portugal”, promovida pelos srs. Félix da Costa e Hyginio de Mendonça; de trabalhos de diversos artistas e amadores.

1886, 15 de Maio - A Vida Moderna

A Vida Moderna
7º Ano
nº 12
Pag. 3
*
Palacio de Crystal

Continua aberta a Exposição Internacional de Photographia, em todos os dias, desde as 10 horas da manhã até ás 6 e meia da tarde
Entrada geral 100 reis; creanças de 7 até 12 annos 50 reis; menores de 7 annos e bilhetes annuaes, entrada grátis.

1886,1 de Junho - O OCCIDENTE

O OCCIDENTE
9º Anno
Vol. IX
Nº 268
Pag. 123, 126
*
EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE PHOTOGRAPHIA NO PORTO
(continuado do Nº. 266)

Occupar-nos hemos agora dos photographos nacionaes.
A Photographia Moderna apresenta-se distinctamente, na variada e numerosa collecção de provas de diversos processos photographicos que exhibe, revelando-se em todos esses trabalhos não só uma instituição artistica esmerada, como um desejo muito louvavel de progredir por meio do estudo proveitoso das novas descobertas da photographia.
Foi aos proprietarios d'este reputado estabeleimento que se deveu a iniciativa do presente certamrn e é a um d'elles, o sr. Ildefonso Correia, que cabe grande parte da gloria resultante dos esforços empenhados para o seu bom exito
O sr. Ildefonso Correia, a cargo do qual está a direcção technica da Photographia Moderna, possue a par de uma intelligencia culta, uma aptidão não vulgar reunida ainda a uma grande força de vontade.
D'este modo, os conhecimentos vastos adquiridos pela leitura constante de tudo quanto se relaciona com a arte que cultiva, o que dá um eculio poderosissimo de elementos de competencia technica, e o bom gosto manifesto e indispensavel derivado de uma orientação artistica bem educada, contribuem para que os trabalhos d'esta casa se extremem por qualidades que não podem passar desapercebidas áquelles que não se deixam facilmente offuscar por meras apparencias.
Exhibe a Photographia Moderna retratos em diversos formatos, desde o cartão de visita até á ampliação em tamanho natural, paisagens, costumes, phototypias, photo-litographias, etc.
Nos retratos accentua-se a par de uma boa disposição das figuras, a sciencia deos tornar de um aspecto delicado, sem se recorrer ao lambido do toque exagerado. O retoque é apenas o indispensavel e isto contribue para que a physionomia apresente uma modelação completa e gorda sem desapparecerem os traços da individualisação. Com este predicado essencial e com o auxilio de uma boa distribuição de luz, o retrato torna-se suave, de um relevo agradavel e de um desenho que faz sobressahir os valores das tonalidades.
Como exemplos de correcção indicaremos, entre outros, um delicioso busto de mulher com a cabeça envolta em um lenço, um verdadeiro primor de arte, os retratos de João Correia, Rossi, Taborda, João Rosa, da esposa de Bordalo Pinheiro, de várias actrizes, de uma cabeça de mulata, um retrato em corpo inteiro, de uma senhora, com um vestido de chita, um busto de manola, o retrato em meio corpo, do mesmo modello, os de creanças e finalmente os do novo formato denominado cartão-felicitação.
Na maior parte d'estes retratos predomina o fundo branco, mais ou menos sombreado, começando-se a abandonar os fundos de scenografia de composição phantasiosa. A simplicidade do fundo em photographia contribue sempre para o maior realce do retrato.
Relativamente ás ampliações expostas, achamol-as muito inferiores aos demais trabalhos d'esta casa. Quasi todas se resentem das durezas e das incorrecções peculiares a este género de reproducção, e algumas até deixam bastante a desejar em presença do merecimento revelado nos retratos directos.
Na collecção das paisagens e vistas ha exemplares muito bem trabalhados e de perfeita nitidez. Mencionaremos entre as ultimas um excelente panorama das installações da Companhia das Águas, no rio Sousa, em quatro chapas, e que abrange uma extensão de cerca de 500 metros.
Em phototypia ha diversas provas apreciaveis, extremando-se n'ellas um bello retrato do sr. Ramalho Ortigão.
Muito boas as impressões de chromotypia, de clichés da srª. D. Margarida Relvas e dos srs. Carlos Relvas, Joaquim Bastos, Rebello Valente, Eduardo Alves e Anthero de Araujo.
Merecem mencionar-se as provas de photoglyptia, o processo que melhor imita a fotografia e que tem a vantagem de poder imprimir-se a qualquer côr.
Também são dignas de apreço as provas gelatino-bromuradas, as unicas expostas por photographos portuguezes e que representam uma tentativa feliz.
Todos estes processos tem sido exhibidos nas illustrções da Arte Photographica, publicação intetressante e valiosa feita pela Photographia Moderna e que constitui mais um dos titulos da subida aptidão dos seus proprietarios.
Este estabelecimento, que tem montadas vastas officinas de lithographia, photo-lithographia, phototipya, etc., por um sentimento de escrupulosa honestidade, collocou todos os seus productos fóra de concurso, vista a cooperação activa que exerceu para o bom resultado do certamen não obstante isso os seus trabalhos não deixaram de merecer a attenção do publico e os louvores do jury respectivo.
A Photographia União, um estabelecimento muito considerado pela opinião publica, apresentou-se luxuosamente em uma apparatosa instalação que occupa em largura e em altura todo o lanço da parede do lado esquerdo da entrada da nave.
Exhibe ella além de uma collecção de photographias de plantas, copiadas de exemplares do estabelecimento horticola do sr. Marques Loureiro, uma grande variedade de retratos em carte-table, exposition, impérial e promenade, bem como diversas ampliações em grande formato.
Em todos os trabalhos d'esta casa aprecia se principalmente um esmero inexcedivel no acabamento, o que torna o retrato de um brilhantismo e de uma frescura insinuantes.
Na vasta collecção que expõe ha sem duvida exemplares de merecimento, mas no conjunto nota-se a nitidez excessiva resultante do retoque levado ao extremo da minuciosidade.
Assim, eliminados os traços physionomicos, egualados os planos por falta das gradações naturaes dos toques de luz, o modelado torna se secco e o relevo desapparece.
É necessario comprehender-se de uma vez para sempre, que desde que falte a verdade na photographia, o retrato deixa de ser uma obra de arte e portanto fica reduzido ás proporções de um trabalho material de insignificante valor. Ora reproduzindo a camara escura as fórmas com uma fidelidade extraordinaria, o grande merecimento do photographo está em eliminar da imagem o que seja superfluo sem destruir comtudo o essencial, o desenho.
N'estas circunstancias, o trabalho divide-se pelo operador e pelo retocador. A sciencia do primeiro está na acertada escolha da posição e na boa distribuição da luz e o merito do segundo em fazer sobresair, sem exagero, todos os caracteres da individualidade. Para a obtenção dos primeiros resultados é essencial, depois do bom gosto do photographo, que o atelier tenha as proporções e as condições indispensaveis, e para o conseguimento dos segundos que o retocador possua uma educação artistica não vulgar.
Nada mais falso, nem de peior effeito, por exemplo, do que o ver-se um rosto de perfil completamente negro, com uma linha branca, de luz, a contornar esse perfil. Nada mais exquisito do que o tom geral acastanhado, de uma cabeça, com uns toques de luz caprichosos na testa, no nariz, e em parte da face.
Nós sabemos perfeitamente que esses trucs, que essa apparencia fina e lambida da photographia fazem a admiração e o entusiasmo de muita gente, mas no meio dos progressoos relisados nos ultimos tempos,todos esses expedientes devem ser abandonados.
Já lá vae o tempo em que se julgava que para o retrato ficar bem saliente e bem fixo era necessario collocar o modello perfeitamente no fóco. Hoje, como é sabido, para que a imagem adquira suavaidade e beleza, nos resultados da impressão, convem que o modello saia um tanto do fóco, por meio de uma posição adequada.
Ora as difficuldades em produzir um bom resultado directo, duplicam quando se trata de uma ampliação, e assim é, que quasi sempre este genero de reproducção photographica se torna excepcionalmente convencional e amaneirado.
Se para retocar um retrato em cartão album se requerem conhecimentos especiaes, para aperfeiçoar uma ampliação precisa-se ser verdadeiro artista.
Ninguem desconhece que a ampliação sae vaga e grosseira e que portanto o retocador tem como que de desenhar completamente a figura. Como porém isso demandaria um trabalho, que a ser feito com sciencia, elevaria muitissimo o preço por que ordinariamente se pagam esses retratos, o resultado é que o photographo se limita a aformoseal os, alisando o mais possivel a carnação por meio de um granitado subtil e accentuando os trajes, não se prendendo nem com minucias de modellado, nem com requisitos de tom.
Os fundos, n'esta especilidade de retratos, são tambem um ponto delicado, porque não se consegue facilmente dar-lhes uma côr que faça destacar bem a imagem. Quasi sempre a tonalidade geral d'esses fundos é a mesma das carnes e das roupas, e d'ahi a monotonia do retrato e o seu pouco relevo.
O retrato ampliado, pois, no nosso parecer, não passa na maioria dos casos, de uma bonita aberração, de um producto anti-artistico.
Todas estas considerações que vimos fazendo e com as quaes não pretendemos de modo algum dar lições a ninguem, teem apenas por fim demonstrar que com os elementos de que a Photographia União dispõe, precisa ella corroborar a fama que tem alcançado por meio de uma determinação mais consentanea com os pontos de vista artisticos. A mão de obra, os processos materiaes são sem duvida indispensaveis, mas a arte é tambem um grande valor na photographia.
De tudo quanto deixamos dito não se deprehenda qua a Photographia União se apresente n'este certamen de modo desairoso. Pelo contrario. Nas suas collecções ha trabalhos dignos de apreço, incluindo uma ou outra ampliação, como por exemplo a do retrato da cantora Adele Borghi.
Quanto ás photographias de plantas, essas reproducções eram de uma certa difficuldade com as antigas chapas de clodio, mas presentemente são facilimas por meio dos novos processos conhecidos. A nitidez d'essas provas tem valido á União varias recompensas nas exposições horticolas a que tem concorrido tanto no paiz, como ainda ha pouco em Madrid.
Os antigos photographos os srs. Silva & Pereira apresentam, além de uma colecção de retratos, varias provas em photographia, chromotypia, ferrotypia e cianotypia.
Esta casa, que vae um tanto na rectaguarda dos progressos da photographia, exhibe ainda assim alguns trabalhos bons, entre os quaes apontaremos como exemplo, dois retratos em placa, um do sr. dr. José Pereira Reis e outro do sr. Fonseca, antigo director da Academia Portuense de Bellas Artes.
Tambem não deixaremos de mendionar um retrato em chromotypia do sr. Camillo Castelo Branco, o mais verdadeiro e mais parecido de quantos conhecemos d'aquelle illustre escriptor, a quem os photographos, talvez por uma homenagem de admiração, procuram quasi sempre desfigurar nos seus clichés, com negridões e retoques phantasticos.
De Lisboa concorreram apenas os srs. João Camacho e Rochini. O primeiro enviou só um busto de senhora, em duble-placa, trabalho agradavel, mas que não póde dar uma ideia perfeita dos productos do seu estabelecimento. Pena foi portanto que não exhibisse maior numero de provas.
O sr. Rochini expõe uma collecção de primorosas photographias a saes de prata, de monumentos e panoramas. Os trabalhos, n'este genero, do distincto photographo, extremam-se pela nitidez e pela fidelidade da reproducção e apenas o que sentimos é que os preços dos exemplares não estejam muito ao alcance dos estudiosos pouco endinheirados.
É sabido que as photographias de uma certa ordem de monumentos são um valioso auxiliar para os que se entregam a investigações de arte e archeologia. Ora custando cada um dos cartões 500 e 600 réis, uma collecção d'esses monumentos difficilmente póde ser alcançada sobretudo pelos escriptores, por via de regra pouco abastados.
Um grande serviço que os photographos nos prestariam, a nós, os que estudamos um pouco, seria pois o facilitar a aquisição das photographias de monumentos e de obras de arte, reproduzindo-as por meio de algum dos processos que mais embaratecessem esses trabalhos.
O sr. J. A. da Cunha Moraes expõe uma numerosa quantidade de vistas e typos da Africa, photographias estas que tem servido para a sua interessante publicação A Africa Occidental. Os trabalhos do sr. Cunha Moraes, já pelo interesse que inspiram, já pela sua boa execução, tornam-se de incontestavel valor.
De Coimbra concorreram os srs. José Maria dos Santos, proprietario da Photographia Conimbricense, Adriano da Silva e Sousa e Photographia Sortoris.
Dos tres, o que melhor se apresenta é o sr. José Maria dos Santos, que exhibe uma collecção de 12 vistas de Coimbra, comprehendendo interiores de edificios publicos. Os trabalhos d'este photographo são recommendaveis pela sua nitidez e perfeição.
O sr. Adriano da Silva e Sousa expõe varois retratos apreciaveis, e melhor se apreciariam se a impressão demasiado escura não os tornasse um tanto duros. A Photographia Sortotis pouco ou nada se extrema. Enviou sómente dois retratos em cartão de visita e algumas vistas de Coimbra.
Depois da menção d'estes productos, chegaram mais alguns estrangeiros.
Referir-nos-hemos em primeiro lugar á notavel collecção de provas isochromaticas em gelatino-bromurada, feitas directamente e sem nenhum retoque, pelo sr. A. Attout Tailfer, de Paris.
Eis resolvido n'estes trabalhos o problema da relatividade dos tons em photographia e sobre a qual, como já referimos, o sr. Scolik., de Vienna, apresentou diversos estudos.
As côres sobre as quaes o sr Tailfer operou foram o azul, o amarello e o alaranjado, e assim apresenta as aproximações d'esses tons, por meio de copias de um quadro de Chaplin, e de outro de Bouguereau, bem como de vidros com pinturas coloridas. A differença extraordinaria dos resultados obtidos pelo distincto photographo avalia-se perfeitamente pela comporação das suas photographias dos referidos vidros, uma ordinaria e outra isochromatica. N'aquella, a pintura vê-se descorada, fria, sem gradações intermediarias entre o branco e o preto, emquanto que n'esta os tons destacam-se suavemente, determinando-se bem por cambiantes de claro-escuro, as diversas côres do quadro.
O sr. Tailfer, applicou ainda as suas chapas isochromaticas a paizagens ao ar livre, a marinhas, ao interior de uma cathedral e a photographias instantaneas, e as vantagens d'este processo são do mesmo modo importantissimas na questão de côr. Os planos determinam-se e acentuam se melhor do que pelos processos anteriores, e os effeitos de luz produzem-se com maior naturalidade e belleza.
Todos os especimens expostos são excellentes e as descobertas feitas por este insigne artista, dignas da mais elevada consideração e apreço. Aconselhamos os nossos amadores a ensaiarem as chapas isochromaticas d'este photographo.
O sr. Pierre Patin, de Bois Colombes, França, enviou dois positivos em vidro, sendo um retrato de Patti e uma vista instantanea do transatlantico Normandie. Nada offerecem de notavel, a não ser as bellas molduras em vidro, imitando o antigo.
O sr. Eugenio Pirou, de Paris, expõe em uma elegante instalação de velludo verde e encarnada, uma collecção de retratos sobre porcelana. São trabalhos apreciaveis, realçados pela materia em que a imagem é impressa. Entre os retratos ha alguns que reunem á boa execução, uma disposição muito artistica dos modellos. A collecção d'estas photographias acha-se incompleta, em consequencia de se terem partido umas tres durante o transporte.
Os srs. Bergeret & de Joux, apresentam varios trabalhos, muito perffeitos, em phototypia.
Finalmente o sr. H. Mackenstein, de Paris, exhibe uma preciosa collecção de instantaneos, representando marinhas, paizagens, etc., produzidos pelos apparelhos photographicos do mesmo expositor, e alguns dos quaes tambem estão patentes. As provas são inexcediveis de nitidez, apresentando bellos effeitos da natureza.

Porto, abril.

(continua)
Manuel M. Rodrigues

1886, 11 de Junho - O OCCIDENTE

O OCCIDENTE
9º Anno
Vol. IX
Nº 269
Pag. 131, 134
*
EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE PHOTOGRAPHIA NO PORTO
(concluido do Nº.268)

AMADORES ETRANGEIROS

Esta secção é exclusivamente preenchida por amadores inglezes e todos elles se apresentam de um modo distinctissimo.
O facto nada tem de extraordinario desde que se conhece o culto, quasi fanatico, que existe em Inglaterra pela photographia, arte que n'esse paiz tem attingido o maximo de desenvolvimento e que é alli cultivada com verdadeira paixão.
Occupa o primeiro logar entre estes expositores, o celebre amador H. P. Robinson, auctor do tratado Do effeito artistico em photographia. Conselhos aos photographos sobre a arte da composição e do claro-escuro, e que se acha traduzido em francez por mr. Hector Collard, membro da Associação Belga de Photographia.
O auctor demonstra as theorias do seu livro em cinco magnificos quadros de composição, tres interiores e duas paisagens.
Nada mais bello e primoroso.
Uma das photographias, imitando na tonalidade, os quadros da escola hollandeza, representa um rapazinho provocando o appetite de um rafeiro com um bocado de pão que lhe mostra. Em duas outras destaca-se a figura airosa de uma rapariga, em attitudes diversas, inundada pelo jacto de sol que penetra por uma ampla janella.
No primeiro quadro, o tom geral é negro, o que não obsta a que sobresaiham as figuras e os accessorios do aposento. Nos segundos, os effeitos de luz envolvem em uma suave côr branca, o gracioso modelo. Eis os dois contrastes procurados com a maior intelligencia pelo photographo.
Nas tres composições a que nos referimos, a par de uma execução technica irreprehensivel, nota-se a bella disposição das figuras, a harmonia dos detalhes, e sobretudo as gradações de côr, os magnificos effeitos de claro-escuro. Dir-se-iam copias de delicadas pinturas em que não faltam até as partes apenas esboçadas de certos planos.
Nas duas paisagens dão-se as mesmas qualidades artisticas. Em uma d'ellas vê-se um formoso grupo composto de tres raparigas e um velho, e na outra uma mulher caminhando por uma floresta, estando duas outras sentadas sobre um muro. O fundo é formado por um pedaço de rio limitado por uma arvorisação frondosa.
São verdadeiramente adoraveis estas composições, já pela disposição das figuras, já pela naturalidade dos movimentos, já emfim pela impressão de todas ellas. Depois de tudo isto a poetica escolha dos locaes, realçados pelo modo como estão definidos e graduados os planos e os toques de luz nas massas de sombra, tornam os dois quadros de um encanto indefinivel.
O sr. Robinson é em summa, a par de photographo eximio, um artista de grande sentimento.
O sr. Adam Diston, tambem apresenta cinco pequenos quadros de genero, composições photographadas a saes de prata. Representam scenas domesticas, de uma só figura, mas tão intelligentemente concebidas, tão naturalmente dispostas e tão primorosamente trabalhadas, que constituem verdadeiros primores photographicos.
O sr. P. H. Emerson, de Suffolk, expõe dez provas em platinotypia, tres a saes de prata e uma a carvão sanguineo.
Das provas em platinotypia, as mais bellas, são seis marinhas instantaneas, de uma delicadeza e de um primor de execução irreprehensiveis. São egualmente correctas uma paisagem e as scenas campestres, do mesmo processo. As provas a saes de prata representam assumptos domesticos, extremando-se entre ellas as que tem por titulo Confessions.
São formosissimas e de um bom gosto inexcedivel seis paisagens expostas pelo sr. J. P. Gibson, de Hexham, um amador de primeira ordem. Nada mais suave, mais nitido, mais bello de côr, do que esses seis pequenos quadros, em que as quedas de agua, os bocados de ribeiro, as folhagens do arvoredo accentuam em umas gradações de tons surprehendentes. As paisagens do sr. Gibson não tem talvez rival n'este certamen, em merito artistico.
Do mesmo modo distinctas são oito paisagens, exhibidas pelo sr. J. M. Brownrigg, de Guildford, nas quaes ha bellas projecções de agua, sendo além d'isso muito bem escolhidos os pontos photographados.
O sr. George Renwick, apresenta cinco ampliações em platinotypia e duas provas a saes de prata. As primeiras, representando aspectos de inverno, são interessantissimas. Grandes pedaços de paisagem, cobertas de neve, atmospheras ennevoadas sobre as quaes se destaca o emaranhamento do arvoredo, despido de folhas e debruado de geada, riachos com os seus reflexos escuros, emfim uma serie de impressões e perspectivas do effeito mais estranho e encantador. As duas provas a saes de prata representam um velho amolador em posições diversas. Tanto n'estes como nos outros quadros, o trabalho photographico é excellente.
O sr. Clement Williams, de Halijax, exhibe uma preciosa collecção de paisagens e marinhas instantaneas, sendo as primeiras no genero das do sr. Gibson. Todas ellas se apreciam pela sua beleza e correcção. As marinhas são de uma poesia e de um aspecto surprehendentes. Sobretudo um effeito de luar, que tem por titulo Light et eventide, é maravilhoso. Os trabalhos do sr. Williams constituem um dos testemunhos salientes do modo admiravel como em Inglaterra se cultiva a photographia.
Finalmente o sr. Eduardo Alves expõe quatro caixilhos com paisagens e instantaneos dos srs. Morion & Cª., de Londres, productos por igual primorosos e dignos de apreço.

AMADORES NACIONAES

Compete o primeiro lugar n'esta secção aos notaveis amadores o sr. Carlos Relvas e a srª. D. Margarida Relvas, dois verdadeiros artistas, dois nomes consagrados pelos respeitos e pela admiração de nacionaes e estranhos.
Por muito que os bens de fortuna contribuam para que um amador opulento possa reunir todos os elementos de uma producção artistica primorosa, duas coisas ha que a riqueza não póde supprir: são a arte e o bom gosto.
Ponham-se á disposição de um ignorante e de um espirito superficial os mais aperfeiçoados apparelhos photographicos e os melhores productos chimicos, e o trabalho operado não passará de uma vulgaridade sem merito, de uma massa de claro-escuro sem a suavidade das gradações cruamente transmitidas pela luz.
D' este modo, por excellentes que sejam os recursos materiaes dos dois amadores a que nos estamos referindo, uma coisa se destaca nos seus trabalhos, que dá a nota crystalina da sua elevada intuição artistica: é além da factura primorosa, a distincção e a belleza do aspecto.
Assim, desde o simples retrato até á vasta paisagem; desde o pittoresco costume até ás filigranas das arcaduras ogivaes, tudo tem relevo, nitidez e a côr que faz sobresair o detalhe.
Seria decerto fastidiosominudenciar uma por uma todas as provas das numerosas collecções do sr. Carlos Relvas e de sua exmª. filha e portanto limitar-no-hemos a indicar englobadamente alguns d'esses trabalhos.
Do sr. Carlos Relvas notaremos além do preciosissimo album da exposição de arte ornamental, as bellas phototypias de monumentos e reproducções de quadros, as paysagens, nas quaes ha algumas admiraveis do Ribatejo, varios retratos apreciaveis, finalmente tudo o que póde constituir em photographia um elemento de interesse e de prova de execução primorosa, sob todos os pontos de vista artisticos.
Da srª. D. Margarida Relvas, além de varias paisagens, monumentos e costumes, uns deliciosos retratos circulados por flores, o que lhes dá um aspecto tão delicado como distincto, photypias, provas a carvão, etc.
Os dois amadores que tão notavelmente se apresentam, exhibem os seus trabalhos em diversos processos, o que demonstra o quanto se dedicam ao estudo dos progressos da arte, a qual lhes tem merecido as mais elevadas recompensas en certamens estrangeiros e nacionaes.
De Lisboa concorreram os srs. Victor Sassetti, Athur Benarus e Garland e Madame Effle de Pitroff., cada um dos quaes expoz varias paisagens dignas de apreço e que dão testemunho de uma intelligente aptidão.
Do Funchal enviou o sr. Joaquim Augusto de Sousa, uma boa collecção de vistas, representando grande parte d'ellas, quedas de agua; e de Evora, expozeram os srs. Pereira & Peixoto tambem varias vistas de um trabalho regular.
O sr. João S. Romão, de Braga, expõe diversas photographias a saes de prata, instantaneos e reproducções em que se nota pouca perfeição de impressão.
Do Porto apresentam-se os srs. José Mauricio Rebello Valente, Joaquim Basto, Eduardo Alves, Anthero de Araujo, Claro Outeiro, James Searle e André Cassels. Entre os trabalhos que todos elles exhibem ha muitos primorosos e de uma factura nitida. Consistem na maior parte em vistas, paisagens, e alguns retratos. O sr. Cassels, que é um trabalhador incansavel, tem na sua immensa collecção diversas vistas instantaneas, excellentes, e os restantes amadores revelam, por igual, nos seus productos, uma intelligente orientação e proveitosos conhecimentos da arte.
Em photographia collorida ha trabalhos apreciaveis dos srs. Francisco Guillon y Morante, e Frederico Camara Leme e de Miss Searle e Madame Moller Claus, todos d'esta cidade. Quem mais se distingue n'esta secção é o sr. Guillon que apresenta alguns retratos pintados com certa arte, entre elles um da actriz Amelia Vieira, de corpo inteiro e outro da cantora Adéle Borghi, muito bonitos pela naturalidade do colorido, quer das carnes, quer das roupas.
Ha ainda na exposição diversos retratos a crayon, copiados de photographia, muitos d'elles quasi detestaveis.
Para contrabalançar essa pobreza, o Centro Artistico expõe em uma elegante instalação alguns retratos desenhados por Marques de Oliveira, Sousa Pinto, Henrique Pousão, Custodio da Rocha e Torquato Pinheiro, dignos de mencionar-se pela sua belleza e correcção.
Finalmente no certamen expõem-se ainda apparelhos e productos photographicos e outros objectos, bem como livros sobre photographia.
E aqui terminamos a revista que nos propozemos fazer da actual exposição internacional de photographia, a primeira, no seu genero, que se realisa no nosso paiz.

Porto, abril.


Manuel M. Rodrigues

1886,31 de Julho - A VIDA MODERNA

A Vida Moderna
7º Ano
nº 25
Pag. 2
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Palacio de Crystal

Exposição internacional de photographia

A digna direcção do Palacio de Crystal, officiou ao snr. Conselheiro Aguiar, para sollicitar se S. M. El-rei o Senhor D. Luiz I, a sua assignatura nos diplomas da Exposição internacional de photographia, na qualidade de presidente da comissão directora da exposição.
A direcção aguarda a resposta de S. Majestade, para fazer entrega das medalhas e diplomas.