sábado, 18 de abril de 2009

1863, 26 de Fevereiro - VOZ DA MOCIDADE

1863
26 de Fevereiro
VOZ DA MOCIDADE
Nº. 1
Pag. 1, 2
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A PHOTOGRAPHIA
Ninguem ignora as grandes vantagens, que podem resultar da cultura da photographia, como unico meio seguro de reproduzir as imagens de todos os objectos, pela maneira a mais simples, mas a mais rigorosa. Outr'ora erão necessarias grandes despezas e enorme perda de tempo, para conseguir o que hoje, por meio d'ella se obtem, com pouca despeza e em menos tempo que então gastava um desinhista a aparar um lapiz ou um gravador a afiar o buril.
Por aqui se pode calcular quanto é util a photographia; por isso entendemos, que não havendo em Portuguez obra alguma que trate d'este importante ramo de conhecimentos, nos tornavamos uteis publicando um breve esboço destes principios.
Esforçar-nos-hemos por appresentar aos nossos caros leitores não só todas as theorias em que ella se funda; mas todos os processos que se empregão na pratica, e as descobertas mais recentes e importantes.
Para a intelligencia perfeita do que escrevemos, serão necessarias algumas figuras que, no fim hão de ser lythographadas e distribuidas pelos snrs. assignantes.
Começaremos por acompanhal-a á luz da historia, desde o seu berço até ao ponto de desenvolvimento em que hoje se acha.
Foi em 1770 que se deu o primeiro passo em photographia: um nobre chimico sueco notou que o chlorureto de prata se conservava branco na obscuridade e enegrecia na presença da luz solar. Por meio d'esta propriedade conseguírão reproduzir gravuras; porque, cubrindo uma folha de papel com esta substancia e applicando-lhe uma gravura de maneira que, exposta á luz directa do sol, esta fosse interceptada pelas partes escuras d'aquella, o papel só ficava enegfecido nas partes correspondentes aos claros da gravura, e as outras partes conservão-se brancas. A copia obtida por este processo alem de ser negativa, isto é, em que as sombras estavão transpostas, tinha o inconveniente de só se poder conservar na obscuridade; porque apenas se expunha á luz, immediatamente enegrecia em todas as suas partes e desapparecia.
Faltava pois produzir imagens positivas, ou aquellas em que as sombras guardam o seu estado natural, e se tornão fixas ou insensiveis á acção da luz. Carlos, em França, Wedgwood e Davy, em Inglaterra, occuparão-se da solucção d'este problema; que foi resolvido por Niepce e Daguerre.
Niepce dissolveu betume de Judea secco, em oleo de alfazema. O resultado d'esta evaporação era um verniz espesso, que o phisico de Chalons applicou para cubrir uma lamina de cobre polida, ou cuberta por uma de chapa de prata. A lamina depois de ter sido submetida a uma temperatura pouco elevada, ficava coberta d'uma camada adherente e esbranquiçada, era o betume de Judea em pó, e a lamina, assim preparada, era collocada no foco da camara escura. Passado certo tempo divisava-se sobre o pó pequenos esboços da imagem. M. Niepce intendendo que este esboço pouco pronunciado se podia avivar mergulhou a lamina n'uma mistura de oleo d'alfazema e petroleo, e vio que as partes da camada que tinhão sido expostas á luz ficavão quasi intactas, posto que as outras se dissolviam rapidamente e deixavam o metal nu.
Depois de ter lavado a lamina com agoa, via-se via-se formada na camara escura uma imagem positiva. Os brancos erão formados pela luz diffusa proveniente da substancia esbranquiçada e despulida do betume; as sombras pelas partes pulidas e nuas do exemplar, mas estas partes só se viam em logares sombrios: estavão de tal maneira dispostas que não podiam refletir nenhuma luz. As meias tintas quando existião podião resultar das partes do verniz que uma penetração parcial da dissolução tornasse menos escuras que as porções intactas.
« Como o betume de Judea em pó fosse algum tanto pardo e a differença entre os brancos e as sombras pouco apreciavel, a imagem era pouco distincta. Afim de tornar as sombras mais escuras Niepce fez actuar o sulfureto de potassio ou o iode sobre as porções nuas da lamina metalica; porem empregando Niepce esta substancia com o fim unico de enegrecer a imagem depois da acção da dissolução parecia ignorar a alteração que soffre o iode expondo-se á luz solar; porque no caso contrario servir-se-hia d'elle como substancia sensivel.
O methodo de M. Niepce tinha o inconveniente de empregar uma dissolução muito forte, que em certos sitios levantava o verniz; usou depois d'uma dissolução que, demasiadamente fraca, não desenvolvia sufficientemente a imagem.
Daguerre inventou um methodo denominado o methodo aperfeiçoado de Niepce, preferio o residiuo da distillação do oleo d'alfazema pela sua alvura e sensibilidade. Pela dissolução em alcool e ether d'este residuo obteve um liquido que, disposto em uma camada extremamente subtil sobre uma lamina metalica horisontal, deixava evaporando-se, uma camada pulverulenta.
« Depois de expôr a chapa, assim preparada, ao foco da camara escura, M. Daguerre a collocou horisontalmente na parte superior de um vaso contendo um oleo essencial ligeiramente aquecido. Esta operaçã feita n'um local apropriado, permittio descobrir que o vapor proveniente do oleo deixava intactas as partesinhas da camada pulverulenta que tinhão recebido a acção d'uma luz mais intensa.

(Continua) H. S. MAGALHÃES

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